29/03/2010

Aceitação; Tristeza e Zanga

Hoje venho aqui contar uma história que se passou comigo. Nos últimos tempos tenho padecido de dores abdominais diversas e grande aflição e desconforto nessa área do corpo, pelo que fui ao médico. Foi-me indicado fazer umas análises e umas eco-grafias. Bom tratei de marcar os exames, ficando algo desanimada com a espera de 2 semanas para fazer a eco renal. Esperei. No dia do exame dei em louca à procura da credencial clínica para entregar ao médico que iria realizar o exame. NÃO ENCONTREI! "E agora?! Que desgraça, vou ter de voltar à médica (sabe-se lá quando terei consulta...)". Fiquei seriamente perturbada, estava Mal.
  A meio da manhã desci as escadas do prédio do escritório para ir à caixa do correio. pelo caminho vi um homem de idade avançada, que parecia mal. Toquei-lhe e perguntei: Precisa de ajuda, sente-se bem? - O homem voltou-se para mim com um olhar vago, de desespero e disse: - Você fala para mim mas eu não a ouço. Perdi 1.500€, foi o que perdi. Agarrava a cabeça, abanando-a, parecia vencido. Na continuação, acabámos por estabelecer comunicação, apesar do senhor não ouvir. Ele tinha perdido os aparelhos de audição que lhe permitiam ouvir. Isso foram os 1.500€ que ele tinha perdido. Ainda me disse: -Agora tenho de comprar outros, mas só posso comprar um. Sabe, dizia, "Eu não ouço as pessoas e é por isso que não falam comigo." Estive um pedacinho junto do homem, falámos de pais, e filhos, e outras coisas (e lembrem-se que ele não ouvia!), até que tive de me despedir. O senhor apertou-me a mão com força e sorriu.

 Fiquei sem pinga de sangue! Eu que estava a sentir-me a mais miserável porque tinha perdido uns papéis (que já encontrei) e aquele senhor que dependia dos seus aparelhos, para bem comunicar com os outros não os tinha, e nem dinheiro para os comprar.

Pois é! A vida, o universo, Deus, não andam a brincar e é nestes momentos que nos mostra isso. Ensinando-nos a amar o que temos, quem temos e a aceitar também as perdas, mesmo que seja duns papeis.

Aceitar meus amigos, tão simples de dizer e tão complexo de interiorizar.

Púnhamos todos os olhos no velho senhor, que após ter perdido "os 1.500€ que lhe asseguravam a comunicação com os demais, evitando a solidão e isolamento, estava triste, claro, mas simplesmente abanava a cabeça numa mistura de aceitação e desapontamento. E no fim, teve um sorriso para me dirigir.

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